quarta-feira, dezembro 29, 2010

Orô

Troquei os miúdos por Caetano

O infinito por luz

As palavras escritas por cenas

O compasso do só

Verbos por percepção-sensasória e ação

Imaginação

Posse por cores

Cinzas por noite

A definição por sonhos

E sonhos por idéias-forma

O jazz por afoxé

O sax por atabaque

O jeans pelo pé

Livre

sexta-feira, setembro 17, 2010

O Punk Escatólogico - Considerações sobre o Cú

Para Paulo R. Rodrigues


Cú é a palavra de ordem. O que foi construído num diálogo análogo. Somente esta pequena e sem graça palavra, expressa toda a miséria e tédio dos dias insípidos. Mas este pode ser apenas um olhar pessimista sobre esta válvula de escape e precisa ser repensada. Para este substantivo-adjetivo é incorporado seus efeitos asquerosos, bem como é usado para exclamar uma contrariedade, um desagrado. O que muitas vezes pode ser um cú esconde meios de transporte como portas ou pontes para a libertação essencial.
Outro dia disse meu corpo:
“Defeca ser, não acontecerá com esta latrina o que aconteceu com Hiroshima. Teu reto não é um míssil, tampouco uma arma apontada para a tua cabeça. Esta força que fazes é para expulsar o que de mim, teu corpo pleno, não aproveitei. E isto não significa que terás de preservar o que veio acumulando dia a dentro e fora. Cospe. O que não presta para mim é rio perene para ti. Em momentos de cheias, tu deves abrir as comportas e levar os marinheiros ribeirinhos para alto mar.
Filosofias modernistas e pós-contemporâneas cujos autores são grandes mestres propagadores de uma verdade incontestável e por milênios discutida, enfatizam sátiros e irônicos escarrando sobre os bonitinhos e santos sobre a arte do viver: - Tudo vira bosta, meu caro!
Os pré-socráticos diziam com veemência que nenhuma transformação acontece por acidente e sim por uma força divina que mantém tudo num fluxo perpétuo de constante transformação. Eis a razão! Teu tubo é um fidedigno transformador e a minha parte mais sensata. Vive em rotação. Pobres aqueles que nunca deram uma bela cagada! Nunca se permitiram viver, decerto. Pois mais que viver é dar-se permissão para tal.
E por onde mesmo entra o prazer da vida? Tu és a minha porta dos fundos, a porta de saída. Deves parar com este jogo de merda. O que queres pra ti? Fechar o olho que vê a tua existência de uma forma descartável? Tu és volátil! É a representação de futuros fatídicos. Interpretações refeitas olho mutante, tiro o teu óculos escuro para que te debruces sobre os caleidoscópios ambulantes, lisérgicos, e rode magicamente pelas pregas do destino".

sexta-feira, junho 11, 2010

Pathos quente

No alto da minha cabeça

existe um pavil.
Meus dedos deslizam
pelo meu corpo áspero
e as minhas mãos
se ascendem.
Sou aquela que tudo
ilumina.
Entregue ao
sacrífico da luz.

terça-feira, junho 08, 2010

Na brasa

Até que o cheiro dos meus pés me sufoquem.

sexta-feira, junho 04, 2010

Ouço cigarras


E fumo esperando o verão chegar...

segunda-feira, maio 17, 2010

Casa 10 da Rua 18

Não adianta enumerar o embalo do tempo - existe um Saturno
sobre os nossas cabeças.

quarta-feira, maio 12, 2010

Erínias

A mulher serpente-cão, doce e ingrata, beija-me com boca de empatia e a língua de aceitação incondicional e me agride com as mãos da anti-ética.

sábado, maio 08, 2010

Sol da madrugada

Traga Vento
O Dia que a Noite levou.

terça-feira, abril 27, 2010

O Antiquário

"Existindo já era a forma de ser aquilo que queria,
não esforçando a feitura de um outro mais bem acabado,
sabia que mesmo sem se mover já estava sendo."
Ângela Castelo Branco



Os móveis estavam no centro
Deliberadamente indispostos.
Caindo uns sobre os outros relaxados
Pontiagudos, retângulos, quadrados.
Pareciam todos acuados pelos cantos
Elegantemente inadequados,
Simétricos e tímidos.

Sob o nuvem do esquecimento
Maquiagem cinza do tempo
Moldavam suas máscaras imóveis
Marcados por mãos alheias seus rostos impassíveis.
Em sua ciência pouca e obscura,
Sobre os móveis estava a placa "aluga-se".

Suas formas diziam pertencer a um cômodo
Juntos e desordenados envelheciam o imóvel inabitado.
O escuro e o silêncio eram os seus contatos.
E todos os dias os móveis festejavam a ausência.

terça-feira, abril 20, 2010

Um significado subjetivo para loucura

A loucura é a ponte partida sob o abismo das paixões. É o exagero rígido ou a ausência de eixo ocasionada pelos conflitos entre o centro e o meio. Toda forma abissal possui em si mesma uma fascinante dualidade de sentido. O perder de mão dos limites particulares. A loucura é partículas sem lares, errantes, mas isoladas pelas partidas e chegadas das suas edificações fragmentadas à margem de qualquer ordem ou sistema alheio ao seu próprio autêntico, seguidoras somente de suas múltiplas influências abismadas. Estas que atraem “o louco” para a beira, obedecendo suas regras internas para o fundo do abismo incompreendido pela superfície. O ser abismado é o sacrifício/sacrificado da paixão. Aquele que abandonou o logos solar para viver o escuro transformável do seu casulo – o fundo do mar inconsciente – a solidão em busca de seus íntimos significados. A loucura é o efeito abismal do eu transformado em esconderijo, elo secreto e difuso do ensimesmado com os objetos de suas paixões.

sábado, abril 10, 2010

Um relâmpago para dois trovões

Hoje entendo o momento no qual você disse - que horror - para o barulho das ondas sobre as pedras.

Contra-dança das pedras

Credito na conta das repressões
e cada palavra necrosada
faz crescer o débito.

Suprimir e esmagar cada expressão,
dá ordem aos meus comandos.
A palavra lágrima rola
E as pedras me calam fundo.
Em cárceres de pingos d'água
Formando prisões translúcidas.
Concreto à tinta guache,
protejo as costas com luvas.

sexta-feira, abril 09, 2010

Dança das pedras

A maior sensibilidade está no rolar das pedras.
Caso contrário o corpo se torna desafetos empedrados,
Amontadas prisões voluntárias.
Não se deve conter as pedras
É o mesmo efeito da contenção das lágrimas.
Que seja então fenomenal!
O desvelamento do fenômeno natural.
A tragédia e a contrução
Compartilham do mesmo tabuleiro
Perfeitamente sensíveis no seu devir.

sexta-feira, março 12, 2010

De - clara - ação

AS PEDRAS SÃO ESTRELAS QUE DESABROCHARAM NO CHÃO.

quinta-feira, março 11, 2010

Deslizando pelas as corredeiras as pedras talham
Ameaçando os andares à baixo as pedras resistem
Rolando verticalmente os rochedos as pedras brincam
Vincadas a terra as pedras voam
Habitando as encostas as pedras descansam
E endurecidas as pedras cantam
As pedras sabem do peso de suas esculturas
Pedregal, pedreira emburrada, pedra da Lua
Trovejam quando caem em cima de outras
Até mesmo raiva de pedra é sensível
Desculpam-se e celebram seus novos contornos
Ecoam os pedregulhos trovões.
Pedras nuvens, pedra-de-raio, pedra de ara, pedra polida
Pedra-ume, pedra-sabão, pedra lascada.
Aos olhos dos menos refletidos podem ser mero joguetes do caos
As pedras sabem do seu papel real
Entregam-se aos passos, aos ritmos naturais
Dançam águas, dançam terra, dançam ar
As pedras até choram
Mas não no mesmo lugar.

O que escorre à esmo...

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Bolsa de confete

Não fujo mais da chuva

Brinco de pular poças

De fazer aliados pelo caminho

Cúmplices dos instantes.

Sem pressa, mas correndo

Percebo a vida em sua potência

A força da vida em um único momento.

Sem passado e nem futuro

Deslizando no hoje agora

Percebo além de mim que

Há vida em cada gota.

A vida em cada gota.

Vida em conta-gotas.

Pingos incontáveis na eternidade

Da presença.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Hoje


"Ó minha alma, ensinei-te a dizer 'Hoje', como 'Algum dia' e 'Outrora' e a dançar a tua ciranda para além de todo aqui e ali e acolá"

Nietzsche



E ele disse:
- Deixe a paz vir...