terça-feira, abril 15, 2008

RÁDIO ALMÁTICO - MODO GRAVADOR: PARTE II

- Eu quis te dar uma casa no alto da Ilha e você não quis. Essa casa era toda amarelinha com dois olhos de janela e você não quis. Ela já tinha as telas para converter luz solar em energia. Faríamos a nossa própria luz, a nossa própria energia... mas você não quis... você não quis... - Ela disse para que eu respeitasse as escolhas dela e eu o fiz.

terça-feira, abril 08, 2008

A DROGA RIA

Para Tatiana Bezerra
Parei com as drogas. Intravenosas de veneno almático contaminava o perispírito. Às vezes, injetava pelos órgãos sexuais. Aí era piração pura! O barato perdurava mais tempo. Sentia correr no sangue e sentia por horas que nunca mais poderia parar. Pensei em casar com a droga, jogar a minha vida fora e me trancar em um quarto com as mais belas heroínas com as suas línguas de agulha e transar com todas até morrer. Não poderia viver mais sem. Nas crises, quando faltava, pirava de novo. Ficava instável, alucinada, perdia os eus do controle de mim. A agressividade era combustível porque sabia que assim que injetava de novo seria tudo maravilhoso. Confesso: me tornei viciada. Confesso agora o que pode parecer óbvio, mas na época não enxergava. Era muito mais forte que eu. Sabia as conseqüências: envelhecimento acelerado, surdez, cegueira. Noradrenalina: meu ópio na caixinha do corpo físico alvo. Acelerava meus batimentos, minha respiração. Eram orgasmos de kundalini. Ficava fora da realidade e pensava no começo: é para aliviar a dor, a ansiedade, aumentar a auto-estima. Solidão é uma merda, meu! Potencializava com o álcool para elevar o risco de overdose. Misturava as drogas no que chamam de "speedball". Os efeitos eram mais duradouros e intensos. Cheirei até perder as narinas, fumei até estourar os pulmões, bebi até não ter mais fígado, baforei até não ter mais saliva. Eu precisava. Achava que com isso eu poderia mudar. Achava que eu dominava a droga. A droga ria de todas as minhas ações por mais que eu tentasse dialogar. Eu achava que podia. Me tornei apática, letárgica, deprimida e obcecada. Quando já cansada, sem energias até para me picar, percebi que a droga jamais iria mudar. E quando já sem dinheiro, com tudo vendido e falido, família, amigos, trabalho tudo perdido, e mesmo assim eu não abandonei a droga: a droga me abandonou em uma das minhas alucinações. Vi que era a melhor coisa que ela fazia - me deixar. Passei pela terrível crise de abstinência: calafrios, convulsão, vômitos, vontade de morrer. Me internaram, foi bloqueado qualquer tipo de contato externo. Dias até nascer novamente. E depois de tudo e por hoje estar limpa, dei por mim que droga é droga e ponto. Ainda tenho droga nas minhas veias. Existem várias delas por aí, se tornou um mal necessário. Fumo só meu baseado, meu cigarro, e me contento com o mínimo/máximo de mim: me drogo com o meu eu ex-drogado.