terça-feira, abril 27, 2010

O Antiquário

"Existindo já era a forma de ser aquilo que queria,
não esforçando a feitura de um outro mais bem acabado,
sabia que mesmo sem se mover já estava sendo."
Ângela Castelo Branco



Os móveis estavam no centro
Deliberadamente indispostos.
Caindo uns sobre os outros relaxados
Pontiagudos, retângulos, quadrados.
Pareciam todos acuados pelos cantos
Elegantemente inadequados,
Simétricos e tímidos.

Sob o nuvem do esquecimento
Maquiagem cinza do tempo
Moldavam suas máscaras imóveis
Marcados por mãos alheias seus rostos impassíveis.
Em sua ciência pouca e obscura,
Sobre os móveis estava a placa "aluga-se".

Suas formas diziam pertencer a um cômodo
Juntos e desordenados envelheciam o imóvel inabitado.
O escuro e o silêncio eram os seus contatos.
E todos os dias os móveis festejavam a ausência.

terça-feira, abril 20, 2010

Um significado subjetivo para loucura

A loucura é a ponte partida sob o abismo das paixões. É o exagero rígido ou a ausência de eixo ocasionada pelos conflitos entre o centro e o meio. Toda forma abissal possui em si mesma uma fascinante dualidade de sentido. O perder de mão dos limites particulares. A loucura é partículas sem lares, errantes, mas isoladas pelas partidas e chegadas das suas edificações fragmentadas à margem de qualquer ordem ou sistema alheio ao seu próprio autêntico, seguidoras somente de suas múltiplas influências abismadas. Estas que atraem “o louco” para a beira, obedecendo suas regras internas para o fundo do abismo incompreendido pela superfície. O ser abismado é o sacrifício/sacrificado da paixão. Aquele que abandonou o logos solar para viver o escuro transformável do seu casulo – o fundo do mar inconsciente – a solidão em busca de seus íntimos significados. A loucura é o efeito abismal do eu transformado em esconderijo, elo secreto e difuso do ensimesmado com os objetos de suas paixões.

sábado, abril 10, 2010

Um relâmpago para dois trovões

Hoje entendo o momento no qual você disse - que horror - para o barulho das ondas sobre as pedras.

Contra-dança das pedras

Credito na conta das repressões
e cada palavra necrosada
faz crescer o débito.

Suprimir e esmagar cada expressão,
dá ordem aos meus comandos.
A palavra lágrima rola
E as pedras me calam fundo.
Em cárceres de pingos d'água
Formando prisões translúcidas.
Concreto à tinta guache,
protejo as costas com luvas.

sexta-feira, abril 09, 2010

Dança das pedras

A maior sensibilidade está no rolar das pedras.
Caso contrário o corpo se torna desafetos empedrados,
Amontadas prisões voluntárias.
Não se deve conter as pedras
É o mesmo efeito da contenção das lágrimas.
Que seja então fenomenal!
O desvelamento do fenômeno natural.
A tragédia e a contrução
Compartilham do mesmo tabuleiro
Perfeitamente sensíveis no seu devir.