sexta-feira, maio 09, 2008

Inaê - A Linguagem do Mar

Eu tremia. Achei que fosse de frio. Janelas e portas abertas do céu castanho. O barulho do mar me embalava num som em ondas. Achei que fosse a saia jeans, a blusa decotada. Eu vibrava. Era uma oscilação curta, constante, abusada. O ritmo das minhas mãos era de água salgada. Os meus pensamentos era fogo em terra úmida. Eu sintonizava. Achei que eram as expectativas decorrentes do ar que sentia bater dentro. Não imaginava que fosse de fora o vento que a minha pele ouvia. Como numa orgia sensitiva, meu sexto sentido entrava quando nada tinha senso. Eu ganhava. Achei que perdia e perdida rolei os dados: abri os oráculos. O tempo não imaginava que eu o transcendia. Eu pulei as ondas do começo. Pulei sem parar onde preciso de autorização para penetrar. Penetrar a Mãe do meu outro eu que me originou. Me tornaria a Mãe da filha que me concebeu. Seríamos uma só. Eu podia. Eu tentei e emergi a nova linguagem. A linguagem dela antiga, dialeto esquecido nas profundezas de uma origem fragmentada e hermética. E assim, Ela me disse que era Aquela vinda do passado. Ignota. Eu ainda tremia. Mas já tinha a noção da minha percepção com a sensibilidade dos signos que desvendei. Fechei as janelas do céu. Hipnotizada tirei a roupa. O frio era quente e me levava para os braços das entranhas Dela. Me afundei na terra da água para ser aquela que Ela me permitia. E no meu ritual a beira do meu oposto complementar, me entreguei para as Deusas do Mar.

2 comentários:

Aos Pés das Letras disse...

te amo , deusa da maré...

Anônimo disse...

Muito complexo pro meu ser básico. Mas eu gosto de ler essas coisinhas suas.