sábado, outubro 18, 2008

Pierrete

Para Andressa Egas


“E a vida segue, sempre nesse vai e vem que não passa das ondas do amor.”
Marina Lima



Ela imaginava que o amor era possível e que possuía uma bagagem imensa de outras relações. Experiências que cauterizaram o coração por diversas vezes. Caminhava em busca de sentidos, sentidos do amor. E sempre encontrava um alvo para as suas aventuras.

- Eu conheci uma pessoa ontem no bar, Marina. E acho que desta vez pode dar certo! Desta vez é diferente! Ela veio de uma relação conturbada, já navegou nas águas do desamor, da desilusão e eu também já naveguei por essas águas. Ela está a fim de mudar, viver algo saudável e eu me vejo na hora exata para isto na vida dela e na minha.

Por mais que eu falasse, ela sempre esquecia os detalhes, ela era confiante demais na forças do destino. Hoje eu digo com ironia, pois alguém tão mestra em compartilhar o bem, uma alma tão profunda e intensa poderia se perder pelas ilusões da paixão sem notar, como alguém que anda no deserto atrás de uma miragem de oásis, desfalece desidratado exposto a um sol de quase 50º e morre de calor sem sentir.

- Estamos profundamente apaixonadas e prontas para um novo relacionamento. Ela é intensa, atenciosa, é uma louca na cama e quando me beija parece que me derrete. Estamos namorando, isto não é incrível? Poxa Marina, você vem me acompanhando todo esse tempo e quantas vezes eu não me ferrei? Desta vez é diferente e quem sabe você pode ser até a madrinha do casamento!

Sim, eu a acompanhava há muito tempo e quantas vezes eu não a ouvi dizendo que aquela ou essa vez seria diferente? Ingênua e sentimental, eu a via vestir a fantasia da paixão e desfilar nas avenidas da desilusão. Ela se projetava demais. Via a outra como uma espelho e deformava a sua própria imagem. Eram os amigos, as baladas vazias dos finais de semana, as brigas sem sentido, as disputas pelo poder, as conciliações saboreadas num sexo frenético e empapuçado de um amor-dor masoquista.

- Sabe, eu não sei o que acontece. Eu me entreguei por inteiro e ela é oras tão quente oras tão iceberg. Acorda do meu lado, me beija, diz que me ama e a tarde é mal-humorada, diz que está de saco cheio das minhas pressões para que ela seja no mínimo constante. A maioria das vezes não me sinto satisfeita com ela. Ela é rasa, imatura, distante e egoísta. Depois me dobra na cama, dizendo que me ama, mas que a difícil de lidar aqui sou eu e acabo pedindo perdão pelo o que nem fiz para que possamos ficar bem. Terminamos ontem, Marina. Voltamos hoje.

O princípio do fim começara. Era uma questão de tempo até tudo desmoronar por completo. Todos os planos, os sonhos iriam naufragar e quando estivesse boiando em alto mar sem a proteção do navio da relação, iria se esforçar para morrer e salvar o afogado. Iria chorar, berrar, escancarar a boca para dor, beber o sangue da ferida aberta, gritar e se culpar por longos meses.

- Acabou, Marina! Acabou! Eu não quero vê-la nem por um decreto! Ela é louca e está me enlouquecendo também. Eu não agüento mais. Me perdi novamente. Confiei mais uma vez, mas não posso acreditar numa relação que não há futuro, onde nossas vidas são vazias. Não posso ficar com uma pessoa que diz que me ama e no dia seguinte me trata como se eu fosse nada. Eu não posso implorar por amor, Marina. Eu sei como isso funciona muito bem e não posso cair nessas armadilhas. Vou ficar sozinha, na minha. Vamos sair Marina, beber e esquecer os desamores.

Ela voltou e terminou mais duas vezes logo depois. Uma traição aconteceu e ela ficou mais fragilizada do que estava. Perdida, desprezada, com a fantasia rasgada nas mãos, não saia de casa por nada. Se puniu por muitos meses, se lamentou até a última gota de amor próprio. Aos poucos, mudou a rotina, conheceu pessoas novas, se valorizou mais. Começou a sair novamente. E quando encontrava com o ex-amor, feria com o mesmo ferro que fora ferida. Tratava com desprezo agora que estava linda, solta, solteira e com a fantasia costurada. Mas eu sabia que era mais um ciclo que ela fechara para iniciar outro assim que se sentisse pronta. Passou a dizer que tinha novas metas no amor. Não mergulharia se não fosse profundo. Queria alguém real sem desertos, sem miragens. E assim, pela manhã, o meu telefone tocou:

- Marina?! Preciso te contar! Eu conheci uma pessoa ontem no bar! E acho que desta vez pode dar certo! Desta vez é diferente...

5 comentários:

Unknown disse...

Achei muito show a historia, criativo, sensivel e interessante!

Parabens, ja sou fã dos seus textos! :)

Bjo

blogdojose disse...

Muito bom, pra variar intenso rsrsrs, mas achei triste, não que seja, apenas uma percepção pessoal.

bjão

Unknown disse...

PRA ONDE NADAMOS NESSE OCEANO ????
PRA ONDE OLHAMOS NESSE DESERTO ???
PRA ONDE VAMOS SE DE REPENTE TUDO ESTA DENTRO !!!!

BEIJAO ISA.

Anônimo disse...

Parece que já vi essa história antes...Em algumas partes comigo mesma,e em outras estrofes minha querida amiga,que sempre mergulha muito profundo,que acaba perdendo o ar.Toda vez a mesma historia:"aprendi,dessa vez vai ser diferente..."E eu que fico na platéia torcendo para que seja mesmo...
Em relação mim...Que não tenho tantas experiências assim,mas vivo eternamente apaixonada como uma boa pisciana...Conheci uma pessoa "ontem" no bar...Que mexeu comigo,fez brilhar os meus olhos,e ver o oásis no meio do deserto,e logo pensei:"essa seria meu céu e meu inferno,perfeita demais..."Pronto já estou "eu" apaixonada novamente...
Lindo texto...Beijão kat

Anônimo disse...

qualquer semelhança com milhares de história é mero acaso da vida... rsss adorei!
Simone