sexta-feira, julho 11, 2008

Pela Legalização da Droga do Amor

É como encher a cara de cerveja “Guilts”. O desejo de ficar locão por alguém independente da ressacada do depois. Mareado sentimento. E desesperadamente alimentamos nossos vícios nos cios alheios. Já se falou muito em fast-food, mal necessário. O barato é o seguinte: quando pensamos que atingimos um alvo e juramos de pé junto que sim, sim é esta pessoa, este alvo tem algo que nós identificamos quase que de imediato:

- Adoro esse tipo de barato. Essa mina tem uma coisa que me... Não sei explicar, mas acho que dá pra arriscar a pegar e...

Mas aí eu vos pergunto: o que será esta droga de amor além de uma droga? Além de um barato para se experimentar?

E com este tal amor vem o tesão, vem a paixão e todos esses sentimentos massacrados listados em papos como estes. Bem sabemos que estes sentimentos são o barato e os únicos que os nossos sentidos captam e não explicam e excitam.

Dependendo da droga afetiva, o relacionamento segue seu drama nas desventuras de um viciado atrás do seu vicio. Mendigamos para conseguir, roubamos, escravizamos, morremos e até matamos por amor. Dito amor. Amor, amor... E então o que seria uma melhor definição do que esta? Podemos até ilustrar o fato com atual polêmica de Amy Winehouse que vive tão loucamente cheirando, tomando e fumando suas drogas ao mesmo tempo em que vive em uma droga de relacionamento. Quase que não tem distinção. Ela só materializa seus sentimentos que dão a impressão de que uma droga compensa a outra e tudo fica mais louco quando se mistura.

Passamos aqui o tempo todo tentando modificar o que nos cerca e quando finalmente conseguimos, não queremos nos adaptar ao que nós mesmos modificamos recorrendo às mais diversas fugas. O modelo antigo de amor ideal caiu por terra.

- Não, não minha menina, príncipes encantados não existem mais. Agora só há viciados. Idealizamos o amor certo a moda dos contos de fada na era da internet onde em qualquer chat, (veja!) como nas paginas amarelas, vemos: “Mostro meu pau na cam”.

Na década de 40 não era assim. Décadas e décadas atrás o homem se excitava ao ver o calcanhar da mulher levemente exposto dentro de tantos panos e hoje é “chupo sua buceta” como codinome. Não que naquelas épocas não houvesse sacanagem. Havia sim e muita! A diferença que nos dias de hoje a sacanagem é pública e normal. Então se isto de fato é encarado desta forma, por que ainda continuamos considerando o amor e buscando as sentimentalidades da maneira mais medieval possível? O amor adaptado aos nossos tempos pode ser algo comparado à normalidade das relações promíscuas, às relações de adultério, às relações doentias.

Que seja então decretado o fim do casamento, a abolição dos compromissos e que o amor verdadeiro e eterno seja desmascarado como falso e arcaico. E que o amor (amor???) tenha o direito de se drogar e se prostituir dentro dos relacionamentos decentemente. Desta forma, livraríamos-nos dos sentimentos mais mesquinhos como a mentira, a culpa, o remorso e viveríamos condizentes ao nosso tempo dentro de uma poligamia dissimulada e degradada.

E para os que ainda possuírem o modelo antigo de amor como meta deveriam optar por ficar sozinho (mesmo sabendo que hoje ninguém se sente energizado o suficiente para tal) ou esperar para que A Providência Divina faça com que este ser humano sonhador encontre outro da mesma forma para viver o seu conto de fadas isolado.

Mas quem vive de free-lances nos relacionamentos bem sabe que este sonho careta não dura e que este pobre sonhador terá que se prostituir também para ter uma lasquinha da droga do amor.

O amor é produto de mercado assim como a droga, e esta condição de produto tira toda luz dos nobres sentimentos. Esta comparação se mostra tão real que poderíamos defini-la como “Modelo de Amor Ideal na Idade Contemporânea” onde encontraríamos toda a ilusão e a desilusão dos viciados não adaptados.

4 comentários:

diana sandes disse...

“Sou uma mulher do século XIX/ disfarçada de século XX”
ana c.

Anônimo disse...

Depois de muito tempo sem aparecer, eis que entro no seu canto e me deparo com uma constatação, o amor romântico a la oitocentista belleépoqueano morreu, ou melhor, já vai tarde. Minha amiga que amo tanto, o amor dito romântico nada mais é do que a nossa própria idealização do ego ou alterego no próximo, por isso é tão lindo e eterno, mas é ilusão. Estamos numa era de revoluções, pacíficas e sutis, e o amor talvez seja uma das maiores mudanças, não o amor em si, acho que até merecia uma outra alcunha, mas o relacionamento afetivo-sexual entre as pessoas. Sexo explícito, descarado, coletivo, de domínio público, aberto, transexual. Numa época de individualismos, onde se resolve tudo por uma tela, é inevitável a superação da necessidade do contato físico ou do olhar, até mesmo da existência do outro(a). Não sei se o amor se banalizou - créu, quadrado e etc de funk carioca e afins - ou se nossa concepção sobre ele é que está ultrapassada. É difícil aceitar o novo, mas ele sempre vem. Ou você se metamorfoseia ou tenta resistir. Venha ler o meu jogral.

Anônimo disse...

Nenhuma clínica resolve esse barato.

Anônimo disse...

Minha cara Isabelle, acabo de ler seu texto e sentir o tom de suas palavras... Realmente, quando falamos em "amor" temos dentro de nós uma imagem que individualmente e diferentemente se constrói... Eu acredito muito que cada um encontra o que procura e não acho demodê enfrentar a correnteza para ir buscar o amor... o que acontece é que as pessoas procuram nos lugares errados... o amor da Belle époque na realidade já nasceu idealizado... nas cidades, ou seja, fora dos livros a diferença era imensa... quando o realismo entra em cena, ele ridiculariza o amor platônico, mostra que os românticos eram românticos demais e mergulham no universo da pobreza, miséria, adultério, promiscuidade... o ser humano sempre foi fetichista, o sexo sempre foi mercadoria de troca, instrumento de poder e tanto em uma época quanto em outra sempre houve quem confundisse amor e sexo... que eu acredito serem coisas completamente diferentes... acho que a droga do amor existe, mas a droga do sexo é ainda mais vendida... nos dias de hoje, entre mulheres melancias, bananeiras, morangos e outros hortifrutis impera soberano a mercadoria mais cara: o corpo.
Quando se busca mais sexo do que amor, e se confunde as duas coisas, corre-se o risco de cruzar uma tênue linha que as separam...
Não acho que o amor tenha morrido e sem falso ou verdadeiro moralismo, sexo pelo sexo também é muito bom...
O que acontece nos dias de hoje é que a mercadoria de compra e venda foi trocada... quando se vendia o amor (isso ainda acontece) havia um ponto de vista que o valorizava... agora vende-se o sexo, como se vende pasta de dentes, chocolates, cerveja... Só não acredito que um possa superar o outro, as pessoas continuam as mesmas, em sua maioria, e acredito que ainda vivemos como Elis cantava aquela música de Belchior...
Eu vivencio ainda hoje o amor em poemas mais modernos, músicas bem feitas, livros (que não sejam de auto-ajuda), alugns filmes também... e se há ainda tais coisas que falam tanto sobre o amor, é porque há ainda quem o deseja proteger... por isso não acredito no apocalipse tão imediatista do amor... talvez eu seja mais romântico... mas não sou apenas romântico...
Um beijo querida...