segunda-feira, novembro 16, 2009

Para Ana


Na união das orações
As palavras se separam
No vício do ciclo da repetição
O cansaço, o ilogismo
A punição.
Trans/pirar é um passo para enlouquecer
O par
Os pés das letras já não formam mais.
Parada no alto da represa
A alma descansa à sombra do fim
E o suor escorre no corpo nu do silêncio.

Para Cristina

A loura dos óculos fundos
Não agüentou a angústia da espera
O amor assim como ela
Aparecia e desaparecia.
Suplicou pela vida
Mas intuiu que a amada só viria
Nos braços da morte

Para César

Vou expressar a dor
Do alto
Minhas pausas, meus hiatos
São os meus bichos de estimação.

sábado, novembro 14, 2009

IDAVILA - 24ª EDIÇÃO - ANO DE LIBRA

Abalada no balancê dos tolos, ela fumava três cigarros:

Pela Busca da Intimidade;
Pela Linguagem Poética;
Pela Fé dos Desesperados.

Mas as cinzas voaram ao acaso.

E gritou: posso ser vinte e quatro balanças da dor, mas que o amor não me esqueça no contrapeso.

quinta-feira, novembro 05, 2009

O caráter poético da intimidade

A existência do ser que somos é construída através da articulação do passado, do presente e do futuro. Somos hoje diferentes do que éramos com nítida possibilidade de vir a ser outro amanhã. Com esta possibilidade, há a necessidade de se descobrir a direção, o sentido que daremos à nossa existência. O sentido aqui consiste na verdade de cada um a cada vez. Pode acontecer, que durante este trajeto do constante reencontro com nós mesmos, podemos perder o sentido ou simplesmente não encontrá-lo dificultando o fluxo do desenvolvimento da nossa existência.

O acesso a esta via que caiu em neblinas é feito através da linguagem. Não a linguagem da razão, não a linguagem usada no nosso dia a dia, mas é aquela que fala ao íntimo, que abaixa as brumas e estabelece o contato ao que ficou oculto ou aparentemente perdido: a linguagem poética.

Nesta linguagem não se faz necessária a explicação do que se quer transmitir, não é preciso a confirmação de alguém do que é expressado. Esta linguagem visa a liberdade de se comunicar, porém com a expectativa de que outro possa compreendê-la. Tal qual um poema que não precisa de explicação, da separação das palavras, do sentido de quem a escreveu. É baseada na possível compreensão de quem a leu.

Em um dialogo poético, podemos recordar fatos, pessoas, sentimentos que um dia foram muito importantes para nós. A intimidade reconecta e é onde se estabelece a linguagem poética. Podemos reencontrar a expressão do nosso modo de sentir, a alma do nosso íntimo e ao recordar, verdades surgem.

Assim, a verdade redescoberta é capaz de libertar o ser aprisionado pela falta de sentido. Através da linguagem poética é possível entrarmos em contato com o nosso íntimo, a compreensão do que faz sentido ao coração, onde este coração pode habitar novamente e reabrir a existência do ser para vir a ser sem interferências no nosso fluxo de desenvolvimento.