Para F.
Quem é que nunca se meteu em um picadeiro do circo do amor, vestiu a fantasia de palhaço e deixou satisfeito o público que cuidadavidaalheia?
O ingresso é de graça. Qualquer pessoa pode sentar na platéia e assistir as pataquadas da “Trupe da Batata Quente”. O preço alto é pago por quem se arrisca a usar o nariz de palhaço dentro das relações em insistir estar com alguém que não está inteiramente comprometido.
A grande piada é quando você quer muito está com aquela pessoa na qual você acha que foi predestinada a entrar no seu caminho. Esta pessoa, por sua vez, não se interessa por sua segurança, fura o tempo todo, caça os assuntos mais mirabolantes para inventar uma briga e sair para a balada mais próxima justamente com aquela amiga ou amigo que só está esperando para fechar o maior golpe e furar o seu olho. O que fazer? Vestir a calça larga e cair na risada.
Porém, não é o que acontece quando se trata de sentimento. Quem não é valorizado sofre pela falta de apreço, sofre pela carência, sofre por se sentir um grandíssimo idiota em querer alguém que caga potes para as suas sentimentalidades. Comédia trágica! Esse sentimento de menos-valia faz com que a pessoa cometa os mais insanos atos, show de ciúmes nos botecos, encenação das garrafas voadoras, viradas de mesa, teatro da rua das gritarias, tenda das lamentações, jogo das intimações enfim, tudo que irá diretamente para o circo do desamor.
E assim, depois de tanto ouvir a platéia avisar que o outro está logo atrás de você com o balde de água fria, você pensa em largar a profissão de palhaço, encarar a desilusão e tentar ser feliz. Dar um tempo para o coração, desencanar, dar-se a oportunidade de voltar a se amar e tranqüilizar a mente.
Mas acontece algo surpreendentemente anormal neste incrível picadeiro amoroso! O espetáculo não termina para a alegria do respeitável público!
De repente você, que cansou de ir para casa sozinho e rejeitado, larga a fantasia no chão e estrategicamente ou não, aquele que lhe jogava tomates na cara é surpreendido vestindo a carapuça. O seu telefone não para mais de tocar, a pessoa percebe que está jogando fora a mais preciosa oportunidade de ser feliz. Reconhece que a palhaça da história tem sido todo o tempo ela mesma e decidi lhe reconquistar de uma vez por todas. Aquele que quis, correu atrás, suplicou pelas migalhas do amor passa a não querer mais. E aquele outro que até pouco tempo não queria um relacionamento embargado volta a querer.
Palmas para aqueles que conseguem sair do palco e nunca mais voltar, pois são sábios o suficiente para entender que isso é puro truque de mágica para que o antigo palhaço volte a palhaçada. Dentro de uma relação, as pessoas envolvidas precisam estar verdadeiramente comprometidas para que o “estar junto” seja saudável e prazeroso. Caso ao contrario, todo o relacionamento vira uma grande piada cansativa e de mau gosto. Se não for o caso, se a intenção não é ter algo sério e firme, que seja logo especificado para que não banalize o sentido de querer bem o outro. Afinal de contas, o coração de ninguém é Play Center.
E que o desejo seja claro, embora não precise ser definido logo às pressas, para que não seja armada a grande lona e para que os palhaços não sejam escalados a contracenar o grande espetáculo do circo do amor – desnecessariamente.